A vida está ali... do lado de fora! 23/09/2025

A vida está ali... do lado de fora!

O quanto da sua vida acontece fora de quatro paredes?

Quantas paisagens do seu dia a dia não contam com um teto de gesso, concreto ou qualquer outro material “gelado” que te impede de olhar para o céu?

Em geral, as nossas rotinas são recheadas de ambientes fechados. Saímos de dentro de casa para dentro de um elevador, nos locomovemos dentro de máquinas fechadas ou com a cabeça voltada para  uma imensidão cinza de asfaltos e calçadas. Entramos nos ambientes de trabalho com menos e menos espaço e, depois disso, saímos correndo para “cuidarmos de nossos corpos” em uma academia preenchida por paredes escuras, luzes artificiais e, claro, lotada de pessoas estressadas.

Como o tempo é curto, corremos de volta para casa, tomamos um banho rápido pensando no próximo dia e em tudo que nos deixa infelizes. Basicamente, não vemos o tempo do banho passar, pois nossa cabeça estava fora dele - espero que figurativamente.

Ao sairmos, esquentamos nossa comida pré-pronta em outra máquina de quatro paredes enquanto rolamos os feeds de nossas mídias sociais. Mídias que afunilam ainda mais as distâncias entre as paredes que nos cercam. Comemos sem sentir o sabor, pois estávamos inebriados pelos conteúdos alucinógenos do telefone. Jogamos o prato na pia, nos deitamos na cama (com o celular em mãos) e, quando percebemos, nosso despertador está tocando novamente para iniciarmos mais um dia de jornada sem sentido, sem sabores, sem cheiros, sem emoções… sem vitalidade.

Provavelmente, essa é a rotina de muitas pessoas que você conhece e, talvez, seja a sua. Contudo, aposto que sua rotina está um pouco melhor; explico: se você está lendo esse texto, já há algo de muito diferente em sua vida!



Você percebe que essa “vida” carrega consigo, em muitos momentos, as escolhas de quem a vive?

Não! Eu não acredito que as pessoas escolhem ter essa vida. Não venha me dizer que eu estou culpando as próprias pessoas pelos problemas que elas enfrentam. E… sim! Eu acredito que se tivéssemos uma mudança cultural e sistêmica no nosso país, as pessoas poderiam sair dessa “vida” de forma mais rápida. Contudo, eu acho que as pessoas escolhem pequenas coisas ao longo do dia que, no fim, constróem essa vida.

O problema em dizer que essa “vida” pode, em parte, ser mantida pelas escolhas de quem a vive é que sempre confundem isso com “basta escolher algo diferente e tudo vai mudar”. Isso é muito pouco provável! Uma mudança grande vem a partir de escolhas grandes (que quase sempre são impossíveis) ou da somatória de pequenas escolhas feitas ao longo do tempo. Guarda isso na sua cabecinha: mudança de vida = pequenas mudanças + tempo.

Duas das principais pequenas mudanças que você pode implementar na sua vida são 

1) “botar a cabeça para fora da janela” e entrar mais em contato com a natureza; 

2) fazer uma coisa por vez sempre que possível. Isso não é balela ou mentira. Não é papo de abraçador de árvore ou quem aplaude o sol. É ciência.


Deixa eu te provar aqui: em 2020, Cooley et al. (2020) publicaram um artigo analisando o efeito da psicoterapia feita em lugares abertos, como parques, bosques e outros locais mais naturais. Os dados mostraram que a implementação da terapia em ambientes naturais foi responsável por redução de estresse, melhora de humor, fortalecimento da relação terapêutica, ampliação de metáforas e narrativa da terapia etc. Os autores ainda citam outros estudos que demonstram que a exposição a áreas verdes (com natureza!!! não adianta sair pintando as paredes da empresa de verde…) pode reduzir batimentos cardíacos e pressão arterial. A prática de exercícios ao ar livre também pode produzir maior vitalidade, engajamento, redução de tensão, confusão, raiva e depressão. Em 2021, Cheng et al. demonstraram que a visuaização de paisagens de natureza pode afetar uma importante área do seu cérebro responsável pela modulação dos níveis de estresse, reduzindo os efeitos negativos e melhorando funções atencionais e regulatórias dos nossos corpos.

Esses dois estudos mostram pra gente que nós devemos, o máximo que pudermos, nos expor à natureza e às atividades ao ar livre. Isso já nos dá opções para fazermos pequenas escolhas que, no futuro, talvez tenham alterado completamente as nossas vidas. Tirar momentos para olhar para fora, sair por curtos períodos das suas quatro paredes, dar uma volta na quadra, fazer exercícios ao ar livre… Tudo isso te colocará em condições mais favoráveis para redução de estresse e aumento da vitalidade em sua vida.

O outro ponto é: faça uma coisa por vez! Quando estiver tomando banho, tome seu banho! Quando estiver preparando a sua comida, prepare a sua comida. Quando estiver comendo, coma. Quando estiver conversando com alguém, converse. Não faça duas coisas ao mesmo tempo. Não puxe seu celular a todo segundo para preencher as mini lacunas temporais entre atividades. Isso diminuirá a sobrecarga cognitiva criada pelo ritmo insano que nós vivemos e te deixará em melhores condições para conseguir, de fato, prestar atenção naquilo que acontece na sua vida. Escreve aí: menor sobrecarga cognitiva = maior vitalidade.

Pois bem… esses são dois pontos de escolha que você pode tentar alterar no seu dia a dia. Tente isso por pelo menos 3 meses e depois você nos procura para dizer se sua vida ficou melhor ou não. Esse prazo é o que a literatura sugere como o tempo necessário para a formação de um novo hábito (Gardner, et al., 2012). Afinal, escolher diferente é agir diferente. Isso vai exigir que você mude seus hábitos anteriores.

Espero de coração que você tenha uma vida mais lenta, mais cheirosa, com mais sabor, com mais emoções e com mais vitalidade!

Dr. André Connor de Méo Luiz
PDI - Instituto Continuum.


Links para as referências citadas:

Texto 1: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0272735820300295

Texto 3: https://bjgp.org/content/62/605/664

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