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Por Larissa Schafranski e Pedro Conte
Você sabe o que acontece na sua interação com o cliente em sessão?
A importância de saber falar e (ao mesmo tempo) ouvir.
A interação entre terapeuta e cliente é um episódio verbal que ocorre durante o período da sessão. Esses episódios verbais são interações entre falantes e ouvintes que envolvem uma contingência entrelaçada, ou seja, ao mesmo tempo em que o falante controla o reforçador do ouvinte o contrário também ocorre.
Dito de outra forma, o que o paciente fala durante a sessão é tanto contexto para o que o terapeuta irá fazer em seguida, quanto resultado do que o terapeuta fez (ou disse), na fala anterior. Ao mesmo tempo, o que o terapeuta fala também é contexto para o que o paciente dirá na sequência – e também consequência da fala anterior do paciente. Logo, tanto o terapeuta quanto o cliente controlam o que chamamos de reforçador um do outro durante a conversa.
É importante enxergar essa conversa entre paciente e terapeuta dessa forma, pois ela traz o foco da análise tanto para o comportamento de falar e, principalmente, para o comportamento de ouvinte – inclusive ao se analisar o comportamento do paciente. O “ouvir” do terapeuta é também contexto, ambiente e consequência para o que o paciente irá relatar e discutir (ou não) durante a sessão. É isso “que acontece quando a gente está num envolvimento, numa interação clínica”, de acordo com a Prof. Andreia Schmidt. “Quando o terapeuta é o ouvinte (...) ele tá analisando as contingências que estão envolvidas no relato desse cliente. Ou seja, qual é a função dentro da relação terapêutica que aquele relato tem e no contexto dessa terapia”.
As terapias comportamentais passaram a valorizar com maior ênfase a interação terapêutica a partir da década de 90. Isso aconteceu porque os estudos foram demonstrando que a qualidade da relação terapêutica (ou seja, das interações verbais entre paciente e psicólogo) está intimamente relacionada aos resultados das intervenções.
“Quando estamos falando de interação terapêutica, nós estamos falando da implicação de terapeuta e cliente em uma relação que vai acontecer basicamente de forma verbal, certo? (...) O que está acontecendo? Você fala usando aquele episódio verbal e analisando o discurso ou aquilo que este cliente está falando? Então, são duas análises que estão ocorrendo concomitantemente. Quando você está analisando o episódio verbal, o que você está analisando? De que maneira aquilo que o indivíduo fala que o cliente fala afeta o seu comportamento, certo?”
Isso tudo acontece ao mesmo tempo e requer prática. Mas é possível desenvolver essa habilidade aos poucos. A Prof. Yara Ingberman, coordenadora da Pós-Graduação em Desenvolvimento de Habilidades Terapêuticas explica que, no treino de habilidades, enquanto um aluno observa o comportamento verbal do terapeuta, o outro aluno observa o comportamento verbal do paciente. “O objetivo é poder ver o que é esse entrelaçamento de comportamento verbal”, explica Ingberman.
O que o cliente diz tem um efeito sobre o terapeuta. O que ele fala chega até você (terapeuta) de uma determinada forma, com topografia, conteúdo e relações específicos. Portanto, a maneira como o paciente fala com o terapeuta e a forma como isso afeta o terapeuta talvez tenha relação com a forma como isso afeta as outras pessoas da comunidade. Pode ser que exista um paralelo aí: será que isso que eu estou sentindo quando o paciente fala comigo é sentido por outras pessoas, fora da sessão? Será que o que acontece aqui nesta interação entre nós dois também acontece em outras relações desse paciente? E, finalmente: será que alterações nessa nossa relação também não podem se refletir um mudanças nas interações do paciente que acontecem fora da clínica?
Para saber mais sobre o Desenvolvimento de Habilidades Terapêuticas
Pós-Graduação em Desenvolvimento de Habilidades Terapêuticas
Para saber mais sobre Contingências Entrelaçadas
Glenn, S. S. (2004). Individual behavior, culture, and social change. The Behavior Analyst, 27, 133-151.
Para saber mais sobre Relações Terapêuticas
Holman, G., Kanter, J. W., Tsai, M., & Kohlenberg, R. (2017). Functional analytic psychotherapy made simple: A practical guide to therapeutic relationships. New Harbinger Publications.
Para saber mais sobre o Impacto das relações terapêuticas nos resultados da terapia
Horvath, A. O., Del Re, A. C., Flückiger, C., & Symonds, D. (2011). Alliance in individual psychotherapy.