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Categorias +Como conhecer o outro?
Entender o que as pessoas fazem é uma tarefa trabalhosa. Mas, convenhamos, não é impossível! Você mesmo ou você mesma já deve ter tirado um tempinho para tentar entender as ações de outra pessoa e, eventualmente, conseguiu encontrar algumas explicações. Certo?
As explicações que nós encontramos giram em torno de dois principais tipos: coisas que aconteceram na vida da pessoa, como uma briga, ou coisas que estão “dentro” das pessoas, como caráter, personalidade ou desejos.
Toda vez que você tenta explicar algo assim (especialmente quando está focando no primeiro tipo), está iniciando um processo chamado: Análise Contingências. Quando analisamos as contingências, estamos analisando como determinadas situações fizeram com que uma pessoa se comportasse de uma maneira específica. Contingência significa "relação de dependência". E, nesse sentido, o comportamento do serzinho que você analisa DEPENDE daquilo que aconteceu na vida dele ou dela.
Show de bola, né?! Agora, para de stalkear seu ou sua ex para "analisar" as contingências da vida dele ou dela e vem comigo para entender como isso ocorre dentro da Análise do Comportamento.
A Análise do Comportamento é, dentre muitas coisas, uma ciência externalista. Tendemos a buscar as causas dos comportamentos das pessoas em fatores externos, contextuais ou ambientais. Com isso, quero dizer que conceitos como caráter, personalidade e desejo, por exemplo, não são entendidos como fatores que causam comportamentos. Esses conceitos são entendidos como partes do comportamento, mas esse é um assunto para outro texto.
O básico que precisamos saber agora é: analistas do comportamento fazem análises de contingências a partir da identificação das interações que uma pessoa tem com os contextos em que ela esteve e está. O que acontece antes ou depois de uma ação ou atividade é tão importante quanto a atividade em si. Mais do que isso, a relação entre estas ações e o ambiente é que nos ajuda a explicar o que está acontecendo.
É por isso que a análise de contingências é o cerne da Análise do Comportamento! Ela se baseia na ideia de que os comportamentos são influenciados por condições antecedentes e consequentes. Já está pedindo socorro? Calma!
Condições antecedentes: situações ou eventos que dão início a um comportamento.
Condições consequentes: ou eventos que ocorrem após um comportamento -- veja nosso texto sobre Reforço e Punição.
Entendido? Um acontece antes outro acontece depois. Um gera o comportamento o outro é produzido pelo comportamento. Agora, simbora!
Quando um terapeuta faz uma análise de contingências, ele busca identificar as várias relações entre aquilo que o cliente faz, onde ele faz e quais foram as consequências desse fazer.
Assim, o terapeuta tem uma grande "fotografia" de pedaços da vida de seu cliente. Isso permite com que o terapeuta possa refinar o seu trabalho investigativo para poder, então, decidir onde e como intervir. É aí que surge a Avaliação Comportamental.
Pense naquele rapaz bonito, cheiroso, arrumado, mas que é um baita de um procrastinador. Ele se dedica sem enrolação a seus cuidados estéteicos. Ele também faz e fez diversas coisas em sua vida e se comportou de inúmeras maneiras. Para cada uma delas, há relações entre suas ações, condições antecedentes e consequentes. Contudo, somente algumas dessas relações podem ser responsáveis pelo que chamamos de procrastinação.
O terapeuta precisará, portanto, avaliar quais são as contingências responsáveis pelo comportamento envolvido no problema do cliente (no caso, a procrastinação). Para ficar mais claro: o terapeuta avaliará (1) quais são os comportamentos em que o rapaz se engaja quando está procrastinando, (2) em que condições ele tende a se engajar nessas ações e (3) quais são as consequências geradas por esses comportamentos.
Quando você realiza a análise de contingências, pode partir para a avaliação. Neste passo, você seleciona todos os momentos que seu cliente procrastinou. Após isso, você detalha as condições antecedentes e consequentes relacionadas a procrastinação. E, se tiver um pouco de sorte (também conhecida como experiência), você aos poucos poderá encontrar um padrão comportamental.
Suponha que todas as vezes que o seu cliente recebe uma solicitação da mãe para fazer algo em casa, ele se engaja em comportamentos de leitura. E, quando age assim, as coisas da mãe são postergadas e dificilmente terminadas. Ao passar do tempo, a mãe fica extremamente irritada, briga muito com ele e, então, ele faz o que precisava fazer, mas muito abalado emocionalmente.
Nesse exemplo:
A primeira condição antecedente é: solicitação da mãe.
O comportamento do cliente é: se engajar em leituras.
A primeira condição consequente é: evitar fazer as atividades de casa e entrar em contato com o conteúdo da leitura. Veja que essa consequência permite que ele evite uma tarefa mais custosa e entre em contato com eventos prazerosos – do ponto de vista dele, pelo menos. Aqui, nós temos a nossa primeira avaliação comportamental: uma das causas do cliente se manter procrastinando é que ele reduz no curto prazo o custo da atividade.
A segunda condição antecedente é a mãe solicitando novamente, mas de forma irritada.
O comportamento do cliente é: fazer a tarefa de casa, mas com um estado emocional abalado. Ou seja, entrar em contato com uma tarefa mais custosa ainda e sentir-se muito mal com sua execução. Isso, provavelmente, diminui a probabilidade dele realizar a atividade solicitada no futuro.
É nessa condição que observamos a manutenção da procrastinação. Em resumo: no início ele evita e reduz o custo da atividade, fortalecendo os comportamentos que o tiram da tarefa. E, no final, ele entra em contato com a atividade, mas num custo muito alto, enfraquecendo o comportamento de realizar a tarefa.
Ao entender isso, o terapeuta consegue intervir de maneira bem direcionada ao problema de vida do cliente. É por isso que a Avaliação Comportamental é a base para a intervenção e modificação de comportamentos. Ela envolve uma análise detalhada das contingências que influenciam um comportamento específico, o que muda de pessoa para pessoa. Seu objetivo é entender os fatores que mantêm o comportamento e identificar as consequências que o tornam mais ou menos provável de ocorrer.
Chegou até aqui? Que bom! Agora, você pode dizer que aprendeu que a análise de contingências e a avaliação comportamental são ferramentas poderosas para compreendermos como os comportamentos se desenvolvem, persistem e podem ser modificados. Ao entender essas relações, somos capazes de criar intervenções eficazes para promover comportamentos desejados e reduzir comportamentos indesejados, melhorando a qualidade de vida das pessoas em diversas situações, como na educação, terapia, treinamento, gestão e muitas outras.
Se quiser saber mais sobre o tema, vale conhecer este curso aqui:
Análise de Contingências e Avaliação Comportamental - Instituto Continuum
Até a próxima.
Andre Connor De Meo Luiz - Doutor em Análise do Comportamento (UEL).