Criatividade é um tema que interessa muita gente. Diz aí: quem não gostaria de ser uma pessoa criativa? Colado a isso, quase sempre, está o conceito de inovação. Afinal, nós vivemos na era das tecnologias e coisas novas surgem a cada segundo. Nesse contexto, inovação parece a chave para as coisas passarem a dar certo. E aí, você se definiria como uma pessoa criativa? Por quê?

Nós nos deparamos com um problema quando passamos a considerar a criatividade e a inovação como características inerentes as pessoas. Tendemos a dizer: “fulano criou aquilo porque é criativo” (ou ainda, “fulano é criativo porque cria muito!”). Ele achou uma solução porque é uma pessoa super inovadora.

Esse tipo de fala coloca esses conceitos como qualidades específicas de uma pessoa (“Ela é criativa”, “Ele é empreendedor”). Ok, podemos definir uma pessoa assim. Contudo, isso não nos ajuda a explicar os motivos pelos quais a criatividade e a inovação surgiram?

Quero que você continue esse texto com a seguinte ideia: se criatividade e inovação fossem as causas daquilo que as pessoas fazem, quem "não fosse criativo" estava lascado! Esta pessoa não "deteria" tal qualidade e, assim, não seria capaz de fazer coisas diferentes, novas, etc.

Sob a ótica da Análise do Comportamento, a criatividade é vista como um resultado das relações entre tudo o que acontece (e aconteceu na sua vida) e como você se comporta a respeito. Em outras palavras, a criatividade é produto da interação entre variáveis ambientais e comportamentais.

As pessoas se comportam de diversas formas. Mas nem tudo o que elas fazem recebe o nome de criatividade. Dessa forma, somente algumas ações das pessoas geram a denominação "isso foi criativo". Isso dependerá de uma relação entre aquilo que a pessoa fez em comparação ao que ela fazia e, especialmente, ao que outras pessoas fazem. 

Veja: se uma criança ganha um brinquedo de montar e o monta de acordo com as regras do brinquedo, dificilmente você a chamaria de criativa. Agora, se ela monta o brinquedo de uma forma diferente do que era esperado, ficamos bem inclinados a chamá-la de criativa. Perceba que é a mesma criança, o mesmo brinquedo: a diferença estava no tipo de comportamento em comparação a outra coisa. 

Então, a criatividade está na relação entre o que as pessoas fazem em comparação ao que elas faziam e ao que é, em geral, esperado. A criatividade mora nessa relação e não dentro da pessoa.

Continuemos...

Se entendermos a criatividade como a) um comportamento complexo b) que resulta da combinação única de elementos já existentes no repertório comportamental de um indivíduo, e esses elementos podem ser modelados e reorganizados através da interação com o ambiente.

Todo comportamento pode ser modelado e reorganizado, concorda? Portanto, é possível tornar-se (ou deixar de ser) criativo, dependendo desta interação entre o que você faz e as consequências destas ações.

Comportamentos que consideramos criativos são frequentemente resultado da combinação de elementos aparentemente desconexos ou do reaproveitamento de ações em novos contextos. No exemplo do brinquedo de montar, poderia ser a combinação entre empilhar peças (comportamento já presente no repertório) em uma forma nova (também uma informação já parte do repertório), mas que não estava indicada na caixa ou no manual de instruções do brinquedo.

O que eu quero dizer aqui é que você pode saber fazer muitas coisas. Quando isoladas, essas coisas podem não ser chamadas de criatividade. Contudo, quando você junta dois ou mais tipos de ações em uma condição específica, o resultado pode ser uma maneira de agir completamente diferente que, nessa situação, pode ser chamada de criatividade. E esse processo de combinar e reorganizar suas ações pode ser aprendido! 

Sendo assim, podemos aprender a ser criativos! IHU!

Esse processo é influenciado por duas principais condições: o contexto em que você está e os efeitos daquilo que você faz. 

Diferentes contextos (ou condições) podem exigir que você se comporte de diferentes formas e, dependendo da situação em que você se encontra ou do problema que você enfrenta, somente um comportamento novo será aceito ou será capaz de resolver o que é solicitado. Uma vez que você se comporta, os efeitos gerados por essa ação farão com que você apresente, no futuro, comportamentos novos ou não. Dessa forma, conseguimos enxergar que a criatividade é produto de uma organização de mundo específica. A depender do contexto e dos efeitos de nossas ações, podemos nos tornar mais ou menos criativos de forma deliberada.

Para que você consiga recombinar comportamentos, você deve, primeiramente, ter mais de uma forma de agir. Certo? 

A lógica aqui é clara: quanto maior o seu repertório, maiores são as chances de você conseguir chegar em algo criativo. Pessoas que possuem um amplo leque de habilidades e experiências tendem a ser mais criativas, pois têm mais elementos para combinar e rearranjar.

Vejamos um exemplo do que acontece com frequência em alguns momentos da terapia e que parece que não tem muito a ver com criatividade, mas tem!

Em alguns processos de psicoterapia, é comum o psicólogo fazer aquela boa e velha solicitação: "Você precisa se expor, precisa aprender coisas novas". É por meio da exposição que conseguimos aprender. Mas isso ainda precisará ser mais bem trabalhado na terapia. Vem comigo!

Conforme o paciente se aventura em novos contextos, ele entra em contato com diferentes relações. Nem todo contexto vai ser “bom”, nem todas as relações serão "prazerosas”. Ainda assim, há um efeito inegável deste processo de exposição: o repertório do cliente tende a crescer. E aí, terapeuta e cliente tem mais matéria prima para trabalhar. Mais recombinações a fazer. Mais formas de se comportar de forma inovadora, criativa. E, muito provavelmente, mais chances de dar conta daquela queixa inicial.

Isso é fantástico, né!?

A Análise do Comportamento oferece uma abordagem rica e abrangente para entender a criatividade e a inovação. E, como os processos comportamentais são similares, isso ajuda tanto pacientes em sofrimento a encontrarem novas soluções, quanto profissionais de tecnologia ou artistas que desejam encontrar formas novas de resolver problemas.

Ao enfocar a interação entre comportamento, condições antecedentes e consequências, essa perspectiva destaca a importância de moldar e direcionar os processos criativos através de estratégias específicas. A criatividade é algo possível e palpável para todas as pessoas.

Para saber mais sobre o assunto – e, claro, se tornar mais criativo - conheça o nosso curso sobre Criatividade e Inovação.

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Até a próxima!

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André Connor De Méo Luiz - Doutor em Análise do Comportamento. Coordenador Acadêmico do Instituto Continuum.