Entendendo as Terapias Comportamentais de Terceira Geração: FAP, ACT e DBT Psicologia e Análise do Comportamento 09/10/2023

Entendendo as Terapias Comportamentais de Terceira Geração: FAP, ACT e DBT

Muitos estudantes de psicologia acabam se deparando com uma imensa "sopa de letrinhas" quando começam a estudar os diferentes tipos de terapias comportamentais. Esse conjunto de letras e siglas se destacam grandemente quando falamos das Terapias Comportamentais Contextuais de Terceira Geração ou de Terceira Onda.

Sim, são três (ondas)! 

E, tendo a dizer, apenas por enquanto. Com o contínuo desenvolvimento dos modelos atuais de terapia e dos movimentos da psicoterapia baseada em processos e da psicologia baseada em evidências, é bem possível que "novas ondas atinjam o nosso litoral".

Hoje, nós estamos aqui para conversar um pouco sobre algumas das integrantes da terceira geração. Contudo, vamos relembrar um pouquinho sobre as gerações anteriores.

A primeira geração de terapias comportamentais surgiu em um momento crítico da psicologia como o objetivo de desenvolver modalidades de tratamento baseadas em dados e fundamentação científica, especialmente em relação aos condicionamentos respondente e operante. Sua aplicação, contundo, não era como vemos hoje. A primeira geração das terapias comportamentais era a forma de trabalho em contextos institucionalizados, como hospitais psiquiátricos.

A segunda geração/onda de terapias comportamentais dá início ao que conhecemos como Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Ela surgiu como uma tentativa de evidenciar aspectos privados do comportamento humano (como pensamentos, sentimentos e emoções) que, segundo os teóricos da época, não era trabalho nos modelos de primeira onda. Claramente, essa segunda geração trouxe uma série de objeções. Afinal, os modelos comportamental e cognitivo têm bases explicativas completamente diferentes e, portanto, as definições do que se considera como importante, do que se entende como causa e como efeito e de que tipo de intervenção utilizar podem ser comprometidas. Mas, esse é assunto para outro texto. O importante de destacar aqui é: por causa dessas objeções, os analistas do comportamento fizeram um movimento que deu início a terceira geração de terapias comportamentais.

A terceira geração trouxe, portanto, o alinhamento epistemológico comportamental e, ao mesmo tempo, manteve a importância nos aspectos privados do comportamento humano - contudo, sob uma perspectiva analítica-comportamental. Como constituintes dessa geração, nós temos a Terapia Analítica-Funcional (FAP), Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e Terapia Comportamental Dialética (DBT). Existem outras, mas, hoje, vamos focar nessas três.

A FAP faz parte das terapias comportamentais de terceira geração e tem como base os princípios da análise do comportamento e os pressupostos filosóficos do behaviorismo radical. Ela foi fundada por Kohlenberg e Tsai (com seu primeiro texto publicado em forma de capítulo em 1987) e direcionada, inicialmente, para pessoas que apresentavam problemas de relacionamento interpessoal. Daí surgiu seu principal foco: as relações humanas, que envolvem todas as interações que temos com as outras pessoas e o mundo em que vivemos e seus efeitos sobre a saúde psicológica das pessoas, que se refere as nossas emoções, sentimentos, pensamentos e habilidades de lidar com problemas do dia a dia.

Quer saber mais sobre a FAP, especificamente? Dá uma olhada nesse post: http://institutocontinuum.com.br/post/introducao-a-fap-transitando-ao-longo-das-cinco-regras

Ao passar dos anos, a FAP foi ganhando mais e mais adeptos no mundo todo. Assim, pesquisadores e clínicos passaram a investigar e utilizar a relação terapêutica como mecanismo de mudança clínica e não apenas como contexto para realização de análises e intervenções.

Portanto, na FAP, a relação terapêutica é considerada o aspecto central da terapia, reconhecendo que o que ocorre dentro da sessão terapêutica pode ser um reflexo do que acontece na vida diária do cliente. E, agora, vamos falar um pouquinho sobre a Terapia de Aceitação e Compromisso.

A ACT foi desenvolvida por Steven C. Hayes e seus colegas na década de 1980 e é baseada na Relação Verbal e no Contextualismo Funcional. É um modelo de terapia que se concentra na aceitação plena das experiências presentes e na busca de valores e metas significativos. Assim, os clientes são ensinados a aceitarem seus pensamentos e emoções, ao invés de lutar contra eles, e a se comprometerem com ações alinhadas com seus valores.

A ACT é amplamente utilizada com sucesso no tratamento de uma variedade de problemas, incluindo transtornos de ansiedade, depressão, abuso de substâncias e muito mais. Ela oferece ferramentas práticas para ajudar os clientes a viverem uma vida mais rica e significativa.

E, claro, também temos a Terapia Comportamental Dialética.

A DBT foi desenvolvida por Marsha Linehan na década de 1990, originalmente projetada para tratar o Transtorno de Personalidade Borderline.

Você pode saber mais sobre o uso da DBT em casos de Borderline clicando aqui!

Ao passar dos anos, a DBT se demonstrou ser eficaz no tratamento de uma ampla gama de problemas emocionais, incluindo transtornos de uso de substâncias (conheça mais sobre esse assunto aqui!).

A DBT combina abordagens comportamentais com técnicas de mindfulness e se concentra na regulação emocional, na melhoria das habilidades de enfrentamento e na redução de comportamentos autodestrutivos.

Um aspecto fundamental da DBT é a aceitação incondicional do cliente, ao mesmo tempo em que se busca mudanças comportamentais. Ela oferece um equilíbrio entre aceitação e mudança, permitindo que os clientes se sintam compreendidos e apoiados.

Ok! Já sabemos mais sobre essas três, mas existem diferenças e/ou semelhanças?

Vamos lá:

Todas são abordagens comportamentais de terceira geração e compartilham bases epistemológicas muito semelhantes – ou seja, elas tem uma origem filosófica comum. Assim, muitas diferenças acabam residindo no foco em que o terapeuta dá para diferentes aspectos do processo terapêutico.

Enquanto a FAP se concentra na relação terapêutica e na mudança de comportamentos clinicamente relevantes, a ACT enfatiza a aceitação plena e o compromisso com valores e ações significativas. Já a DBT lida com a regulação emocional, o enfrentamento do estresse e o desenvolvimento de habilidades interpessoais.

Apesar da diferença nos focos, todas têm um elemento comum: a aplicação de princípios comportamentais para promover mudanças positivas na vida dos clientes. Dessa forma, um mesmo terapeuta pode utilizar processos dos três modelos para atuar em sua clínica.

Fazer isso de forma adequada – e sem perder de vista os princípios da análise do comportamento, contudo, é chave para a atuação dos psicólogos atuais.

Para isso, conheça a nossa "Pós-graduação em Terapias Contextuais"

https://www.institutocontinuum.com.br/curso/26-pos-graduacao-em-terapias-comportamentais-contextuais

Ou, se conhecer um pouco mais sobre as Terapias Contextuais, sem se comprometer com uma pós-graduação, que tal essa aula aqui?

http://institutocontinuum.com.br/curso/103-introducao-as-terapias-contextuais


Doutor André Connor de Méo Luiz - Coordenador Acadêmico - Instituto Continuum

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