Estresse Crônico Moderado (CMS) e a academia. 30/10/2024

Estresse Crônico Moderado (CMS) e a academia.

Hoje, nós vamos conversar um pouco sobre estresse. 

Mas não é qualquer estresse! É um tipo específico, que ocorre constantemente, ao longo do tempo, quase que imperceptível. São pequenos episódios de estresse que se repetem consistentemente, ao longo de algum tempo. Aí, quando vemos, já estamos afogados num grande mar de sensações ruins criado por “pequenas gotas” do dia a dia. 

Hoje, nós falaremos sobre, Estresse Crônico Moderado, o CMS (Chronic Mild Stress).

Imagine que você está fazendo um mestrado ou doutorado, por exemplo. É um período desafiador, com cobranças e expectativas altíssimas, né? Prazos apertados para entregar trabalhos, a pressão por resultados, apresentações em congressos, aulas para dar, pesquisas para desenvolver. Junto a tudo isso, você ainda pode se deparar com algo pouco discutido na academia: tem muito professor e orientador que não está preparado para guiar esse processo (e eles também passam por pressões parecidas). O resultado: excesso de demandas (muitas vezes imprevisíveis!). É muita coisa!

Essa montanha-russa de estresse constante que o aluno enfrenta, quando descontrolada e em excesso, pode ser lida por meio do modelo de CMS. Esse conceito descreve a experiência de viver em um ambiente cheio de "pequenos" estressores que, no fim das contas, se acumulam e viram uma bola de neve gigante (Towbes & Cohen, 1996). É como se a pessoa estivesse constantemente sob a influência de eventos aversivos de baixa intensidade, mas que se estendem por longos períodos. Pequenos estresses esporádicos? Tranquilo, fazem parte da vida e a gente se vira! O problema está nos excessos.

Vamos para alguns exemplos possíveis de como isso acontece:

Sua orientadora pede para você refazer aquele trabalho inúmeras vezes, sem que fique claro o motivo daquela correção. Ou ainda ela dificilmente elogia algo que você produz. Prazos são sempre para ontem, ligações no final de semana ou mensagens à noite são constantes, períodos de descanso são repetidamente desrespeitados e por aí vai. Cada uma dessas situações, isoladamente, pode até parecer trivial, mas juntas, elas criam um clima de tensão constante, uma sensação de que você nunca está livre das demandas.

Se você já se sentiu assim, provavelmente imaginou algo como estar andando numa corda bamba o tempo todo, sem nunca poder relaxar completamente. E essa tensão toda, dia após dia, semana após semana, vai te desgastando física e emocionalmente. Até que tudo desmorona de vez.

O CMS age como uma espécie de “gota d'água” que vai minando a sua resistência, levando a um processo chamado de “carga alostática” (McEwen, 2000). Nosso corpo possui um sistema de resposta ao estresse que, em situações pontuais, é super útil! Imagine que você precisa correr de um leão: seu corpo libera adrenalina, cortisol e outros hormônios que te preparam para lutar ou fugir. O problema é que, no CMS, esse sistema fica ligado o tempo todo, como se você estivesse eternamente fugindo do leão. Isso causa um desgaste enorme no organismo, aumentando a suscetibilidade a doenças físicas e psicológicas.

No começo, você até consegue lidar bem com a pressão, mas com o tempo, as coisas vão ficando mais difíceis. Você pode começar a se sentir mais ansioso, irritado, ter problemas para dormir, perder o interesse pelas coisas que gostava de fazer e até mesmo desenvolver sintomas de depressão.

O desafio é enorme, pois muitas vezes nem percebemos que estamos sendo afetados pelo CMS. Afinal, a pressão e a cobrança são tão comuns na vida acadêmica que ele acaba achando que isso é “normal”. Mas não é! É preciso estar atento aos sinais do seu corpo e da sua mente para não deixar que o estresse crônico tome conta da sua vida.

Dicas para uma pós-graduação mais saudável:

Organize seu tempo: Planejar suas atividades e definir prioridades ajuda a ter uma sensação de controle sobre as demandas, diminuindo a sensação de estar sempre “apagando incêndios”.

Estabeleça limites: Aprenda a dizer “não” para solicitações que extrapolem sua capacidade e disponibilidade. Defina horários para trabalhar e se desligar da pós, protegendo seu tempo livre.

Cultive o autoconhecimento: Esteja atento aos sinais de estresse do seu corpo e mente. Identificar seus limites e gatilhos para o estresse é fundamental para desenvolver estratégias de enfrentamento.

Pratique atividades relaxantes: Incorporar atividades prazerosas e relaxantes na sua rotina, como meditação, yoga, exercícios físicos ou hobbies, ajuda a regular o sistema nervoso e diminuir o impacto do estresse.

Busque apoio social: Converse com seus colegas, amigos, familiares ou procure um profissional da área da saúde mental. Compartilhar suas dificuldades e receber apoio social são fatores de proteção importantes contra o estresse crônico.

Busque apoio legal: Encontre informações legais ou converse com pessoas que possam te ajudar a entender o que é obrigatório e o que não é obrigatório na vida acadêmica e se previna legalmente para tomar decisões que possam gerar eventuais problemas relacionais.

Lembre-se: você não está sozinho nessa! Se estiver passando por isso, procure ajuda. Cuidar da sua saúde mental é tão importante quanto cuidar da sua pesquisa!

O alerta vale para outras situações também! As relações que caracterizam o CMS podem acontecer em diversos contextos, como:

No trabalho: Um chefe exigente, metas abusivas, pressão por resultados, longas jornadas de trabalho, assédio moral...

Nos relacionamentos: Conflitos constantes com familiares, amigos ou parceiros, cobranças excessivas, falta de apoio social, relacionamentos abusivos...

Na vida financeira: dívidas, dificuldades para pagar as contas, instabilidade financeira, preocupações com o futuro...

No contexto social: Discriminação, preconceito, violência, injustiça social...

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Dr. André Connor de Méo Luiz
Coordenador da Incubadora de psicólogos clínicos e do PDI do Instituto Continuum.


Referências:

Towbes, L. C., & Cohen, L. H. (1996). Chronic stress in the lives of college students: Scale development and prospective prediction of distress. Journal of Youth and Adolescence, 25(2), 199–217. 10.1007/BF01537344

McEwen, B. S. (2000). The neurobiology of stress: from serendipity to clinical relevance. Brain research, 886(1-2), 172-189. 10.1016/s0006-8993(00)02950-4


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