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Categorias +Tratamento Na Terapia Comportamental Dialética: Uma Análise Sobre As Habilidades E Sua Aplicabilidade
O tratamento empregado na Terapia Comportamental Dialética (DBT) compreende quatro módulos principais, cada um deles desempenhando uma função específica (Psicoterapia Individual, Coaching por Telefone, Treinamento de Habilidades e Equipe de Consultoria). Estes módulos não se encontram isolados, permitindo o diálogo e compartilhamento de semelhanças entre si. Dentre os vários fatores que os unificam será discutido um, em particular: as habilidades.
As habilidades constituem um tema central para qualquer terapeuta praticante da DBT. Elas permeiam todos os módulos e se manifestam em diferentes momentos ao longo do tratamento. Terapeutas entusiastas da DBT muitas vezes incorporam algumas das habilidades em suas sessões. O Manual em que se apresentam tais habilidades descreve inúmeras delas para as diversas situações, desde as mais simples até as mais complexas. Embora isso possa parecer encorajador, também apresenta desafios. É crucial compreender a lógica subjacente às habilidades e seu papel no tratamento.
O que é habilidade segundo a DBT?
Para Linehan (1993): “A palavra ‘habilidade’ é usada na DBT como sinônimo de “capacidade” e compreende, em seu sentido mais amplo, repertórios de respostas (ou ações) cognitivas, emocionais e comportamentais, juntamente com sua integração, que é necessária para um desempenho eficaz (p. 308)”.
Esta definição evidencia a amplitude das habilidades que um indivíduo pode possuir. Dois aspectos centrais serão abordados: integração e desempenho eficaz. A integração refere-se à habilidade de combinar respostas emocionais e comportamentais, por exemplo, uma pessoa ao sentir raiva se afasta da situação. No entanto, cumpre dizer que a mera integração não define uma habilidade. O desempenho eficaz, por outro lado, envolve a avaliação das consequências do comportamento, buscando maximizar resultados positivos e minimizar os negativos.
Pensaremos em um exemplo fictício. A sua cliente, Ana, relata um conflito que teve com a mãe, pois ela não teve autorização para utilizar o carro. Quando ela pediu as chaves para a sua mãe essa negou de prontidão e começou a insultá-la dizendo que não fazia nem um mês que ela havia batido o carro; que ela era uma irresponsável e que não pensava nos outros. Ana retrucou. A situação toda se tornou muito intensa para ambas aguentarem. Em crise, sua cliente trancou-se no quarto e sozinha chorou por muito tempo até conseguir se acalmar.
Podemos observar o uso de alguma habilidade neste cenário? Aparentemente não. Mesmo que a integração de algumas respostas ocorreu durante o conflito, ou seja, Ana teve respostas emocionais, comportamentais e cognitivas de forma conjunta, é possível afirmar que os resultados não demonstraram um desempenho eficaz. Ana não conseguiu o carro, sentiu-se pior ao fazer o pedido para a sua mãe e, principalmente, ao tentar combater com a mesma moeda. Para avaliar o uso de uma habilidade é preciso primeiro compreender quais seriam os resultados positivos esperados por Ana diante dessa situação. Talvez sua mãe permitiria que ela dirigisse o carro e dessa forma, como consequência a situação não se transformaria em uma briga. Quem sabe até chegar ao lugar o qual ela planejou sem vivenciar um grande estresse interpessoal. Utilizando, portanto, essa segunda hipótese, Ana conseguiria, mesmo sentindo uma intensa raiva e pensando que tudo isso é injusto, verificar com a sua mãe se ela poderia, então, pagar um veículo de aplicativo de carona. Ou seja, a partir disso, parece que as possibilidades são inúmeras. Algumas estratégias poderiam auxiliar o terapeuta nesse processo, como a própria análise em cadeia, no entanto, esse não será o foco deste texto.
Por que usar as Habilidades DBT?
As habilidades DBT são fundamentais no contexto do tratamento global e tem sua origem nas pesquisas relacionadas ao transtorno de personalidade borderline.
Elas se apresentam organizadas em quatro grandes módulos - Mindfulness, Regulação Emocional, Efetividade Interpessoal e Tolerância ao Mal-Estar -, e refletem a reorganização dos critérios diagnósticos em cinco categorias de desregulação proposta por Linehan (1993). Resumidamente, essas categorias estão associadas à desregulação: a) emocional; b) interpessoal; c) comportamental; d) cognitiva; e) do self.
As semelhanças entre esses grupos de habilidades e a reorganização proposta pela autora citada indicam que pacientes com TPB frequentemente apresentam déficits comportamentais nessas áreas. As habilidades, assim, buscam aprimorar, desenvolver e generalizar comportamentos com desempenho efetivo. São, portanto, uma organização de procedimentos e comportamentos descritos na literatura e a partir de estudos com evidências clínicas, com altas probabilidades de alcançar um desempenho eficaz quando aplicados correta e contextualmente.
Conclusão
Uma questão a ser dada ênfase é o fato de que as habilidades DBT não são ferramentas mágicas que funcionam em qualquer situação. É necessário avaliar o contexto em que o seu cliente está vivenciando, compreender quais comportamentos ele possui e quais ele precisaria desenvolver, assim como entender qual seria o resultado esperado diante daquela situação. Isso significa que o uso das habilidades é individualizado, pois a equação nem sempre será, se X então Y. Entretanto, o terapeuta deverá conhecer de forma aprofundada as habilidades DBT para que consiga proporcionar um trabalho e, ao mesmo tempo, um tratamento de eficácia.
Nesse sentido, ressalta-se a importância do terapeuta compreender quais são os objetivos ou resultados esperados quando usar as habilidades a fim de verificar se estão em sintonia com aquilo que o seu cliente precisa naquele momento. Talvez o seu cliente não estruture um DEAR MAN[1] exatamente como proposto no treino ou na sessão, e ainda assim, os resultados alcançados sejam eficazes para aquilo que ele queria buscar.
Em suma, nota-se que o conceito de habilidade é sobre usar meios hábeis para alcançar fins valiosos.
REFERÊNCIAS
Linehan, M. M. (1993). Cognitive-Behavioral Treatment of Borderline Personality Disorder. New York: Guilford Press.
[1] Essa é uma entre as habilidades de efetividade interpessoal. Basicamente diz respeito a fazer pedidos ou dizer não de forma efetiva. Para um maior aprofundamento fazer leitura das páginas 245 a 252 no Manual de Terapia Comportamental Dialética para o Terapeuta.
Vitor Hugo Gomes Soares - Instituto Continuum